sexta-feira, 5 de março de 2010

Este Orlando, desta vez, chamava-se Leandro

Leandro era um menino de 12 anos; disse que não queria apanhar mais dos colegas de escola e lançou-se ao rio.

Era-lhe mais difícil respirar na escola que afogar-se na água.

Leandro era forte…como forte é qualquer pessoa que põe fim à vida, não porque queira morrer, mas porque quer viver e não consegue. O que tinha não lhe servia, porque há momentos na vida em que ter algo é pior que não ter coisa nenhuma.

As águas adormeceram-lhe as mágoas e calaram-lhe as dores para sempre, mas cedo demais. Leandro viveu muito pouco para quem sofreu tanto; e só conseguiu descansar quando conseguiu escapar da brutalidade, da animalidade, da monstruosidade de bestas que andam por ai à solta. Esses não descansam; hão-de encontrar outro Leandro...

É por isso que há medidas imediatas, urgentes, a tomar:

1. A Confap já propôs: responsabilizar os pais desses cobardes que praticam a violência nas escolas. Perda de subsídios escolares e outras regalias ainda é pouco…

2. Responsabilizar os directores das escolas pela falta de vigilância dentro dos seus estabelecimentos escolares.

3. Criar nas escolas, se necessário em colaboração com as autarquias, gabinetes de formação cívica e de apoio psicológico para o acompanhamento de situações de risco.

4. Inverter esta tendência estúpida da perda de autoridade nas escolas. Os professores não podem ser achincalhados, ofendidos, agredidos por pequenos marginais; e tem de acabar este clima de impunidade e inimputabilidade em relação aos alunos.

5. Pacto entre os órgãos de comunicação social, no sentido de um compromisso assumido de divulgação e denúncia do problema.

Farei um dia de silêncio pelo Leandro. Até amanhã.

Entretanto, deixo aqui um poema de Carlos T., que os «Cabeças no Ar» gravaram em 2002. Este Orlando chamou-se, desta vez, Leandro.


Sou um patinho assim, assim
Não há quem repare em mim
Não sou triste nem zangado
Eu sou só um pouco reservado

Não sou loiro, não sou alto
Não corro muito depressa
Não tenho tempo de salto
Não remato nunca de cabeça

Eu sou um Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando

Os dias lá no meu meio
São muito mais não que sim
Não sou um patinho feio
As águas é que fogem de mim

Se as águas fossem iguais
P’ra quem começa a nadar
Talvez eu viesse mais
Talvez até ousasse voar

Eu sou um Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando

Se alguém se lembrar de mim
E disser: “O Orlando veio.”
Diga-lhe que hoje vim
Mas fiquei sozinho no recreio

Eu sou um Orlando
E só venho à escola
De vez em quando
De vez em quando

1 comentário:

Domingos Broa disse...

Domingos Broa Caro Luis fiquei sensibilizado com o teu texto. Foi uma notícia que marcou todos mas muitos outros neste momento estão sendo vitimas. Enquanto os profs. não tiverem autoridade (e autoridade não é violência) e os pais não fizerem o seu dever de educar teremos orlandos, leandros e outros tais nestes meandros do bulling.Abraço