Com uma calma, uma serenidade a toda a prova, como que pairando superiormente sobre o caos, Saramago entrou por aqui a dentro, como um furacão imparável, a dizer que a Bíblia é um manual de maus costumes, que Deus não é de fiar e mais uma série de impropérios. Disse do cristianismo o que Maomé não disse do toucinho. Foi tal a tempestade, que pôs o país todo em estado de alerta vermelho...
Agitou as águas, fez trovejar, acendeu uns quantos relâmpagos, provocou um sismo de grau elevado na escala do dogma e ala, que se faz tarde. E como diz o meu amigo Joaquim Franco, jornalista da SIC, Saramago «fez sair da toca um certo "talibanismo" cristão, agressivo, que se pensava do passado».
Teve honras de entrevista em simultâneo na SIC e na SIC Notícias e mostrou que não vem cá para discussões. Falou calma e seguramente, do topo dos seus 85 anos que não deixam nada a dever à lucidez, à argúcia e ao vigor intelectual. Deixou rasto.
Na entrevista a que me refiro, Saramago pediu que sejam adicionados mais dois direitos aos tão celebrados «Direitos do Homem»: 1. O direito à dissidência e 2. O direito à heresia.
Bem sei que estes dois direitos não fazem parte da cartilha seguida pelo Comité Central do PCP de Saramago… aí, a dissidência e a heterodoxia são forte e exemplarmente punidos.
Mas isso não obsta a que Saramago tenha alguma razão. É preciso ter e conceder, às pessoas, a liberdade de dissidência e de heresia.
Estava aqui a pensar que as grandes religiões já foram, todas, um dia, consideradas seitas, dissidências. O budismo em relação ao hinduísmo, o cristianismo em relação ao judaísmo, o protestantismo e a Igreja Ortodoxa em relação ao catolicismo romano e por aí a fora...
E já para não dizer que as grandes doutrinas bíblicas, pilares e âncoras da mais rígida ortodoxia religiosa, começaram por ser consideradas, primeiro, como grandes heresias.
Dissidência e heresia estão, afinal, prenhes de sementes de futuro.
Nisto, estou com Saramago: viva o direito à dissidência…e à heresia.
1 comentário:
Ora vejamos o ateu José Saramago queria CONSAGRAR numa qualquer Constituição o direito a heresia e a dissidência.Segundo o Dicionário de língua Portuguesa, Consagrar- Le-se:Tornar sagrado, oferecer a divindade entre outas...Quando um ateu quer Consagrar entra desde logo em contradição. Saramago «que força é essa amigo que te faz estár de bem com os outros e de mal contigo...» Ele da alto da sua religiosidade ateia, anda em busca do encontro com o Cristo, sim o filho do Deus vivo(Paulo foi pior)Saramago é Cristão, senão vejamos porque não escreve ele sobre Islamismo, Budismo, Induismo etc.?Porque o inquieta o Judaico-Cristianismo (Catolicismo), Trauma de infancia? Situações mal resolvidas enquanto adolescente? Será só inquietação?. Tenho pena que Saramago nos deixe um dia destes sem ter encontrado o caminho que estava diante dos seus olhos, os qais estavam abertos para tanta coisa e não se abriram para si próprio. Não sendo Saramago um Teologo quis entrar pela teologia e não esteve á altura. Quis contar «CAIM» primeira história de amor e morte , trágica ou galhofeira. Pelo meio a história da criaçaão, não apenas e só, obra de Deus, mas também indústria de humanos e de poetas. Que poder move a escrita de Saramago? Deus ou diabo? Não serão ambos a mesma face ainda que oposta da mesma moeda,onde se reflete tudo? E assim refletida a luz do diabo, mostra-nos o nada. Ou seja ensina-nos a ver a outra face da nossa própria alma.Será necessária a presença de alguns Saramagos para que haja progresso e continuidade?ag
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