quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A METAMORFOSE


O meu amigo Harold Caballeros, fundador e Reitor da Universidad S. Pablo, em Guatemala e candidato presidencial nesse mesmo país, chamou-me a atenção para a discrepância gritante que existe na América latina em geral e no seu próprio país em particular: a altíssima percentagem de cristãos não condiz com os elevados níveis de corrupção existentes. Ele acha que os cristãos, necessariamente portadores de um conjunto de princípios morais e éticos, deveriam ser «sal da terra e luz do mundo» – na empresa, na universidade, no governo, etc. Isto é, os valores partilhados pelos cristãos, resultantes de uma cosmovisão gerada pela Bíblia, deveriam ter tradução prática na forma como se vai construindo a sociedade. E não tem! Para ele, os cristãos são muitos, mas a sua presença não se faz notar ou sentir. Depois, há o «caso Brasil», onde alguns pastores evangélicos, deputados, já foram judicialmente acusados por corrupção…

A meu ver, o problema reside no facto de o cristianismo, herdeiro de uma mundivisão grega, ter desenvolvido um dualismo que se traduz na criação de uma vida a duas velocidades: o céu e a terra; o sagrado e o profano; o religioso e o secular; o sacerdócio e o laicado; a igreja e o mercado de trabalho; o convento e a empresa; o domingo e os dias úteis (e assim se vai sedimentando a ideia de que o domingo nem é dia útil, isto é, nem serve para nada...).

Ora, de acordo com essa grelha de leitura, o cristianismo torna-se uma espécie de fato e gravata (ou batina...) que se veste ao domingo; um conjunto de doutrinas ÚTEIS PARA O DOMINGO MAS INÚTEIS PARA OS DIAS ÚTEIS!!! No limite, é possível ser-se cristão ao domingo e ladrão à segunda, porque um universo não tem comunicação com o outro. As crenças estão separadas das práticas e uma coisa é a vida na igreja, outra é a vida «lá fora».

O que falta é uma metamorfose necessária: o cristianismo tem de abandonar essa ênfase exagerada na ortodoxia doutrinária (que cria mais inimizades e divisões que outra coisa) e deve preocupar-se em articular e traduzir uma ética cristã com tradução prática na vida como ela é. Para viver e vencer, o cristianismo do século XXI tem de saber responder a este desafio! Mas já não falta tudo: Barth, Bultmann e outros, já fizeram o mais difícil – desmitologizar o cristianismo e trazer à superfície o que ele tem de relevante para o mundo hoje. Agora só é preciso perceber que, mais importante que levar uma pessoa a defender um dogma, é ensiná-la a viver uma ética. E, a meu ver, a ética cristã parece continuar a ser o material de construção que melhor satisfaz as necessidades individuais e colectivas.

Quando os cristãos nascerem de novo (para usar uma expressão jesuana) e passarem a preocupar-se mais com a prática de uma ética cristã no contexto de uma comunidade do que com a defesa dos dogmas, então baixará a corrupção, a violência, o crime organizado, o tráfico, a escravatura…e até a crise dará lugar à retoma económica!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

SIGAMOS OS EXEMPLO DAS POLICIAS:-TODOS OS DIAS(E NOITES)SÃO UTEIS.

Anónimo disse...

Concordo com você. Há muito boa gente que precisa nascer de novo!