terça-feira, 5 de agosto de 2008

A mãe de todas as tentações



«Então a serpente disse à mulher: (…) sereis como Deus» (Génesis 3:4,5).


«Sereis como Deus», não é nenhuma proposta honesta ou promessa bondosa: é a mais pérfida, a mais manhosa, a mais matreira de todas as tentações.

Não, não caiamos nessa arriosca! Não nos bastaria sermos deuses, anjos ou demónios: a nossa grandeza, a nossa riqueza, a experiência extática da vida está no facto de sermos Homens! «O Homem de carne e osso, aquele que nasce, sofre e morre – sobretudo que morre», escrevia D. Miguel de Unamuno.

Escondida na aparente candura dessa oferta está uma ratoeira fatal:

«Sereis como Deus» é a tentativa da desumanização, da extinção do Homem. Implica anular a especificidade da sua existência, porque ser como Deus implicaria deixar de ser Homem. E isso é que não – tudo menos isso.

«Sereis como Deus» é um convite à fuga, à alienação; é a tentativa de levar o Homem a desistir de viver todos os pesares e prazeres que só o Homem pode experimentar. Significa levá-lo a perder todas as dores e doçuras que a vida de Homem nos traz: chorar e sonhar, errar e reinventar, cair e voar!

«Sereis como Deus» é a tentativa de encerrar o Homem no totalitarismo do único contra a liberdade da diversidade, da celebração da diferença. Melhor do que a mesmice de sermos todos como Deus é o facto de ninguém ser obrigado a ser como ninguém.

«Sereis como Deus» não chega: é melhor ser aquilo em que o próprio Verbo Divino se tornou: Homem!

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