sábado, 14 de fevereiro de 2009

Buber e Jung - «Deus existe?»

Na última aula de Psicologia das Religiões, passei os olhos, juntamente com os meus alunos, por dois capítulos de um livro fabuloso de Martin Buber, «O eclipse de Deus». Às páginas tantas, Buber deixa Jung entrar no livro e escrever um capítulo, soberbo, sobre Psicologia e Religião. Nesse capítulo Jung invectiva, provoca, acirra Buber. De seguida, cabe a Buber defender a «honra do convento» apresentando o que ele acha serem os pontos fracos da argumentação de Jung, defendendo «a sua dama».

Correndo o risco da simplificação exagerada, diria que o «duelo» vai nesta direcção: Jung diz que Deus não pode existir separadamente do homem. «A imagem que temos de Deus, ou formamos de Deus nunca está separada do homem. Poderá Buber indicar-me onde Deus fez a sua própria imagem separada do homem?», pergunta Jung. Para ele, Deus é um fenómeno psíquico e não existe separadamente do psiquismo humano.

Buber corta cerce e argumenta como quem desfere um golpe certeiro com um machado afiado: «nem a ciência psicológica nem qualquer outra ciência é competente para analisar o teor de verdade da fé em Deus. Cabe a seus representantes manter-se à distância, mas não lhes cabe opinar dentro de sua disciplina sobre a verdade da fé em Deus, como fazem sobre qualquer outra coisa de que têm conhecimento».

Em face disto, resta-me valorizar e ensinar o que há de consistente, de sólido (porque há…) em cada uma destas posições diferentes. Claro que fujo a sete pés daqueles que têm muitas certezas… e que engendram, fabricam, falsificam certezas - quaisquer que sejam elas!

No que a Deus diz respeito, bem faríamos se fizéssemos como diz o escritor aos Hebreus, que nos diz que tudo o que alguma vez conseguiremos será, somente, uma aproximação a Deus. «Porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus» (Hebreus 11:6). Chega de dogmas, de fundamentalismos, de convicções exacerbadas e ortodoxia implacável, como se a totalidade de Deus tivesse sido por nós apreendida, como se nos tivesse sido revelada por inteiro, ou se tivéssemos chegado e Ele…

Limitamo-nos a tentar uma aproximação a Ele e, ainda por cima, como quem vai... «tacteando», como dizia S. Paulo aos atenienses (Actos 17:27)!

2 comentários:

Anónimo disse...

" Ao homem foi dada uma divindade imaginária, para que se desprenda dela, da mesma maneira que Cristo se despojou de uma divindade real"
Simone Weil

Anónimo disse...

SERÁ QUE EXISTE?


Não forces uma flor a abrir-se.
A flor abre-a Deus.
Tu plantas,regas e guardas.
O demais faz Deus.

Não obrigues a que a alma creia.
A Fé a dá Deus.
Oras, trabalhas,confias e esperas.
O demais faz Deus.


Não obrigues um amigo a amar-te.
O amor dá-lo Deus.

Tu serves, ajudas em ti a amizade arde.
O demais faz Deus.

Violeta Caballero