quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A pobreza tem solução???


«Fome Zero», «Pobreza zero», «Dia Internacional para a erradicação da pobreza» e a mais recente iniciativa evangélica «Operação Miquéias». Isto diz-lhe alguma coisa? São iniciativas de solidariedade para a erradicação da pobreza. Mas a pergunta impõe-se: serão mesmo relevantes?

Escrevo com a experiência de quem já fez, durante muitos anos e em vários contextos, um intenso trabalho de apoio social aos mais desfavorecidos. E de quem já fez o suficiente para aprender a tirar daí as ilações necessárias.

Já demos toneladas de boa comida aos moribundos das ruas escuras nas noites de Lisboa; já fizemos distribuição quinzenal de centenas de sacos de alimentos num bairro pobre de Odivelas (sacos que, depois, algumas dessas pessoas iam vender para «fazer» dinheiro para a droga…); já alimentámos, meses a fio, outra comunidade miseravelmente pobre de outro bairro da Freguesia da Póvoa de Santo Adrião…

E se não tivéssemos parado, receio que ainda hoje estaríamos a alimentar as mesmas pessoas – ou, quem sabe, os filhos e netos daqueles que anteriormente ajudámos.

De todos os projectos que desenvolvemos, aquele que mais sentimos frutificar foi o projecto de apoio escolar às crianças de um bairro pobre de Odivelas. Chamava-se «Escola da Cidade» e funcionava assim: todos os sábados de manhã, várias dezenas de crianças que frequentavam a instrução primária, vinham à «Igreja Central da Cidade» para uma manhã diferente: tomavam o pequeno-almoço, eram ajudadas nas tarefas escolares, tomavam banho e faziam ginástica. Algumas dessas crianças tinham mesmo fome, outras necessitavam realmente de ajuda com as contas e os ditados e outras tomavam ali o único banho semanal. Claro que isto obrigava a dessacralizar a igreja e a transformá-la num imenso espaço multifuncional; o espaço sagrado de adoração dominical ficava transformado num espaço sagrado de ajuda ao necessitado.

A minha mulher (que dirigia o projecto) e eu, sentimo-nos recompensados com este trabalho de uma forma singular: o que mais nos alegrou foi perceber a melhoria no aproveitamento escolar dessas crianças! De repente, aperceberam-se de que também eram capazes de ter bom aproveitamento escolar e de que eram tão bons como os outros! Os próprios pais dessas crianças foram ficando deslumbrados com a mudança de atitude dos seus filhos!

Será que conseguimos perceber que é aqui que a pobreza é vencida e uma vida é transformada?

Tudo isto para dizer que desconfio dessas iniciativas de solidariedade que atiram comida para cima dos pobres. Não é por aí…um problema milenar não tem soluções instantâneas. E digo que a pobreza não se resolve atirando comida para cima dos pobres porque a pobreza é mais do que uma condição material, é uma condição mental! Não é tanto uma situação na vida, é uma condição existencial. Pobreza está, quase sempre, ligada à ignorância. Por isso, a única forma de escapar de uma espiral de pobreza e romper o ciclo vicioso da miséria é através de uma educação para a produtividade e para a prosperidade!

É moda jogar comida para cima dos pobrezinhos, mas o plano é esparso, a prática é balofa e o efeito é efémero. Acaba-se a reportagem na televisão, as celebridades vão para casa, termina-se o evento e fica tudo na mesma. Deixo aqui a sugestão de que para combater eficazmente a pobreza é necessário acudir àquela que é talvez uma das maiores causas de pobreza: 45,5% da população, em idade escolar, abandona de forma precoce a escola.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Pobreza, é um conjunto de situações mal resolvidas."
Dr.Harlod Caballeros