domingo, 11 de maio de 2008

O que se faz em sessenta anos...



Falou-se muito dos cinco tigres asiáticos: Japão, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e Hong Kong. Nações que, num curto espaço de tempo, saíram de uma pobreza abjecta para níveis de prosperidade assinalável. Seria de toda a justiça falar-se igualmente do tigre do Médio Oriente: Israel.

Faz, este mês de Maio, sessenta anos que, nas areias inóspitas do Médio Oriente, foi fundado o Estado de Israel, num contexto em que ninguém dava grande coisa pelo projecto. Os fundadores eram uma mão cheia de sonhadores, vigiados por dezenas de milhões de árabes prontos a esmagá-los. Não tinham exército nem dinheiro e alguns deles vieram dos horríveis campos de concentração nazi, onde 6 milhões de judeus tinham já sido executados naquele que foi o genocídio mais sinistro da história da humanidade.

Ainda assim tinham uma convicção: construir um espaço seguro onde pudessem proteger-se do anti-semitismo brutal que esporadicamente era praticado em muitas das nações monoteístas que descendiam religiosamente de Abraão, o pai comum dos judeus, cristãos e muçulmanos.

Tudo estava contra eles: os vizinhos, a geografia, o solo miseravelmente seco e a diversidade cultural dos que regressavam – até na língua tinham dificuldade porque o hebraico era mais uma língua ritual, praticamente morta, usada nas sinagogas para as celebrações religiosas. Os que regressavam falavam alemão, polaco, turco, árabe ou grego. Vinham de culturas e tradições diferentes e de diferentes níveis culturais e intelectuais. Etnicamente acrescia outro problema: estavam divididos em duas comunidades que nem sempre se entenderam: os judeus ashkenazi, de origem alemã-polaca e os judeus sefarditas, originários da península ibérica de onde foram expulsos no finais do século XV. A criação de uma identidade comum era ainda dificultada pelo facto de nem sequer terem um fenótipo que os caracterizasse fisicamente como povo. Esta variedade não era a melhor forma de criar uma unidade coesa de modo a resistirem contra os vizinhos hostis que os queriam empurrar para o mar.

O que fizeram os israelitas durante estes 60 anos e apesar de todas estas diferenças? Criaram uma economia de mercado fulgurante, um Estado de direito democrático moderno e uma democracia parlamentar que reflecte a diversidade desta sociedade vibrante de 7 milhões de habitantes, que goza de todos os direitos individuais. E tudo isto apesar da enorme turbulência em que têm continuamente vivido. Construíram uma nação altamente instruída com uma taxa de alfabetização de 97,1% em que o número de utilizadores da Internet é de 2 milhões. Têm um dos menores índices de violência social e uma minoria de 16% de israelitas muçulmanos, homens e mulheres que, apesar de não serem facilmente assimiláveis, gozam de mais dignidade, liberdade e prosperidade que qualquer outro grupo árabe à face da terra.

O rendimento per capita anual é de US $ 29.000,00 e, de acordo com as Nações Unidas, está entre as 30 nações líderes do mundo, a cujo grupo não pertence nenhuma outra nação do médio oriente. E tudo isto apesar de ter de gastar 8% do seu PIB em armamento e defesa, porque o clima de provocação e hostilidade contínua não faz desaparecer do cenário uma quarta guerra, depois de o país ter sangrado em três guerras anteriores.

De que forma conseguiu Israel atingir este milagre económico, social, político? Através de uma imensa riqueza de capital humano, que se reflecte num ética de responsabilidade, virtudes cívicas e imenso respeito pela lei, pelo rigor, pelo trabalho e pela individualidade. Tudo isto tem-lhes permitido chegar à excelência em áreas tão variadas como a agricultura, comunicações, electrónica, equipamento médico, armamento e até na engenharia espacial, porque agora também os satélites israelitas circundam a terra!

Sessenta anos! Enquanto os judeus construiriam Israel, uma potência mundial, em sessenta anos, Antero de Quental diz que a inquisição destruiu Portugal também em sessenta anos!!!

O tempo trar-nos-á aquilo que fizermos com ele…

Luís Seabra Melancia

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