quinta-feira, 22 de maio de 2008

Acerca do fundamentalismo

Vivemos hoje enleados, enredados no meio de um fenómeno ideológico global que dá pelo nome de fundamentalismo – o fundamentalismo religioso. E tem tido repercussões sociais graves e que se agravam. Mas não é novo; faz lembrar aquele anúncio: «We've come a long way...baby!».

Ainda na Idade Média, no século XI, aparecem os primeiros suicidas pelas mãos de uma seita que se dizia muçulmana. Diante da loucura do comportamento, que contrariava todos os ensinamentos do Alcorão, a resposta encontrada foi uma só: haxixe, eles só podiam fazer aquela loucura drogados. Nunca se provou a tese, mas os muçulmanos apelidaram os adeptos daquele método de os "ashohashin", palavra que entrou em muitas línguas como "assassinos". Os suicidas pertenciam a uma seita fundada em 1090, por Hasan e-Sabbah, um persa xiita que quis retomar o projecto de restabelecer o califado, restituindo-lhe a glória como no tempo do Profeta. Curiosamente, a palavra assassino
tem origem na palavra árabe ashohashin, bebedor de haxixe

No século XII, a Igreja Católica criou a Inquisição – primeiro para queimar albigenses e valdenses. Depois, em 1478, foi criada a Inquisição Espanhola para eliminar judeus e muçulmanos. Finalmente, em 1542, no Concílio de Trento sob o papa Paulo III, foi criada a Inquisição Romana para deter o protestantismo. O cheiro pútrido da carne humana queimada e dos cadáveres em decomposição, infestou a Península até ontem...

No século XVI o protestantismo, acabado de nascer, tenta purificar-se por dentro. Na Suiça, Calvino expulsa da igreja e manda executar os cidadãos que não seguissem a doutrina e prática protestantes. Ainda nesse século, os anabaptistas (os que rebaptizavam) são queimados e afogados em Münster, por acharem que Lutero, Calvino e Zwinglio não eram suficientemente radicais no que dizia respeito ao baptismo.


Depois destas tristes experiências, as igrejas cristãs – católica e protestantes – foram aprendendo a viver com a diferença e a dar lugar ao diferente. A cultura ocidental – nascida na Europa e especialmente na do Norte, protestante – invadiu o Ocidente espalhando os valores do respeito pela diferença e da liberdade individual.

No século XX vemos um recrudescimento do fundamentalismo, agora mais a Oriente. O Islão (na esmagadora maioria do mundo árabe) e o hinduísmo (mais a Oriente, na Índia) têm, dentro de si, perigosas sementes de extremismo e fanatismo religioso, que são preocupantes e que deram muito mau resultado aqui no Ocidente. Estará o Oriente civilizacionalmente mais atrasado? Serão as religiões em causa a causa desse atraso? Será a falta de instrução formal e consequente ignorância a causa de tais comportamentos tão primários?

O islão lida com este fenómeno: os vários movimentos fundamentalistas que nascem como cogumelos dentro do Islão são inúmeros. As Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, a Jihad Islâmica, a Irmandade Islâmica, a Hizbollah, a Al-Qaeda…espalham o terror, o medo, o pânico entre comunidades indiferenciadas: tanto matam em Tel Aviv, Nova Yorque ou Madrid, como matam em Beirute ou Bagdad. No Afeganistão, Sayed Perwiz Kambakhsh, de 23 anos, foi condenado à morte por ter tirado da Internet artigos que punham em causa o papel da mulher no islão.

O hinduísmo, se bem que com muito menos intensidade, lida também com este fenómeno: a Índia, que proíbe a entrada de missionários cristãos, viu partir para o exílio o seu artista M.F. Hussain, o qual teve de fugir em 2006 por ter alegadamente ofendido os sentimentos religiosos dos hindus fundamentalistas com as suas pinturas. O tribunal da Relação de Nova Deli rejeitou as acusações na semana passada; veremos agora se Hussain terá condições para voltar.

Qual é a reposta para este flagelo civilizacional que desequilibra o mundo? E são várias as perguntas que suscita:
1. Por que razão as nações árabes (para o caso do fundamentalismo islâmico) não aplicam o remédio clássico: cortar as fontes de financiamento, reprimir essas lideranças e levar a instrução a essas camadas da população analfabeta que vive na miséria?
2. Por que razão as autoridades islâmicas, (as mesquitas, por exemplo,) não convocam conferências de imprensa para condenar publicamente tais actos?
3. O que pode o Ocidente fazer para evitar que várias centenas de pessoas sejam, diariamente, torturadas e que sejam silenciadas, para sempre, as vozes da esperança, da mudança e da modernidade?
4. E o Ocidente, está preparado para não negociar ou ceder às chantagens e ameaças?
5. Que interesses, no Ocidente, nos levam a assobiar para o lado e fazer vista grossa acerca deste vírus civilizacional mortal?

Vale a pena ter esperança?

2 comentários:

Anónimo disse...

Talvez muitas das suas perguntas e expressões de angústia podem ter respostas ouvindo a perspectiva dos outros. Leia por exemplo o que escrevem aqui os fundamentalistas hindus: http://www.christianaggression.com/item_display.php?type=ARTICLES&id=1205893916
Poderá também ler K.M. Panikkar na sua obra *Asia e a Dominação Ocidental*, para compreender porque a Índia decidiu em 1953 não permitir a entrada dos missionários estrangeiros na Índia. Foi a obra que influenciou a politica externa da Índia. Nessa altura, o primeiro ministro da India, Pandit Nehru foi abordado pelo seu amigo Cardial Valerian Gracias de Mumbai para lhe pedir que deixasse entrar missionarios durante mais uns dez anos para organizar bem os seminários e treinar o pessoal local. Conta-se que a resposta do Primeiro Ministro, pai da Indira Gandhi, e uma pessoa muito liberal, foi mais ou menos assim: Se seguissemos a vossa lógica, teríamos que pedir aos ingleses para continuar mais dez ou mutios anos para nos treinar a governar a Índia!
A decisão do governo indiano forçou a igreja da indiana a tornar-se auto-suficiente. Hoje tem missionários em número suficiente para a Índia e para exportar! Já há muitos missionários e freiras indianos que agora mantém as paróquias e conventos no Ocidente que andam vazios por falta de padres e freiras.

Luís Melancia disse...

O artigo de Kall só me deixou mais exasperado...é que as três condições que ele aponta para criar um clima de paz entre as religiões não existe - nem uma delas, que seja - no islão nem nas repúblicas islâmicas!!!

Veja a terceira condição que Kall apresenta: No religion has the right to force others who are not voluntary members of that religion to abide by that religion's rules.

Se um muçulmano vier para o Ocidente - pensemos, como exemplo, em Portugal - pode CONTINUAR A SER muçulmano e CONVERTER cristãos ao islão. Estamos de acordo com a regra de KAll. Se eu, cristão, for para a Jordânia, para a Algéria, para o Irão, ou... para a Índia (!!!) e tentar viver como cristão e converter muçulmanos ou hiundus... ai de mim - já era!!!

Então Kall, que tenta fazer um artigo CONTRA os cristãos, acaba por fazê-lo rebentar mais ao lado, onde ele não queria...!